Aparecida perde Renato Chad

Foto (Renato Chad)
   
     Na noite de sábado, do dia cinco de outubro. Nossa cidade perdeu mais um de seus filhos, o amigo  Renato Nagib Chad. Foram  sessenta e seis anos, todos  vividos aqui, em Aparecida.  Atuante  no “comércio aparecidense” e na política, sua história de vida foi dedicada aos trabalhos, lutas diárias,  vitórias e superações empresariais e pessoais. Na política da insistência, na militância, muitas das vezes ao lado de grupos mais frágeis, porém leais. Ele  foi o mais honesto, fiel e confiável na sua concepção. Diante disso, sofreu os amargos da política, contou-me do que chamava de “ingratidão e falsidade de alguns políticos”.  Porém, nunca deixou sua capacidade de manter o diálogo e a educação que trazia de berço – alicerce de seus ideais.

     Minhas primeiras lembranças do Amigo Renato Chad foram ainda nos anos “70”, quando eu  ainda menino já trabalhando em atividades juvenis da época , na mesma Praça NS Aparecida, mas sem amizade com aquele “Turco ou Turquinho” comerciante.  Talvez servimos os mesmos romeiros e com certeza juntos ouvimos a fusão das notas dos “badalos da matriz” quando os ponteiros apontavam para o infinito. Hoje é pura e doce saudade daquele tempo.
Contudo, nos anos “90” pude conhecê-lo melhor, iniciando assim nossa sincera amizade. Foi quando então me explicou a origem deste apelido  “Turco ou Turquinho”, pois  na realidade, era descendente de libaneses que devido ao desvio de rota com destino ao Brasil. Mas isto é outra historia.

     Desta nossa amizade, veio a confiança para manter diálogos francos. Por diversas oportunidades comprovei e tive a certeza do seu exemplar e bom caráter. Em muitos episódios, confidentemente me relatou seus sonhos e planos. Nossas agradáveis conversas vespertinas, muitas delas, na Asa Sul externa do Centro de Apoio aos Romeiros aconteciam sempre ao sabor de uma leve brisa. Ele com sua cerveja e eu com meu guaraná. Creio, que muitos outros amigos guardaram essas tardes, como boas lembranças.
Traduzia feito poucos, seu afeto na fina elegância no trato com seus companheiros, funcionários e parceiros. “Vamos tomar um café, senhor?” Muitos ouviram esta frase, quando da visita à sua Loja Santuário dos Apóstolos, a Loja da Santa Grande.  De estilo conciliador foi dono de um sorriso franco e aberto. Princípios como lealdade e fidelidade fizeram parte de sua plataforma comercial, política e moral. Em certa ocasião, informei-lhe de uma situação polêmica que envolveu um dos seus amigos residente no litoral. De imediato, viajou para prestar solidariedade. Como qualquer homem, também teve seus raros momentos de conflitos com opositores, mas acredito, que não guardava mágoas.

     Era comum vê-lo em prosa, sempre com seu natural sorriso, não fazia distinção de amigos e locais, ricos ou pobres, vi  sorrir e cantar a canção “Chico Mineiro” deste o “Patury” e pelas mesas dos bares de esquina, quintais, chácaras e outras. Com certeza muitos queriam sentar e cantar como ele naquelas cadeiras dos bares, beber algumas cervejas, saborear petiscos, mas,  a coragem talvez não fosse suficiente... E hoje “naquela mesa está faltando ele”.  Interessante como essas “boemias vespertinas” terminavam sempre às oito da noite, quando ele regressava ao seu lar. “Senhores está na hora de irmos”.
Como bem diz um poeta das manhãs de domingo “Foi-se embora antes do combinado”. Perdemos este nosso amigo, digo e saliento  “nosso” , pois preciso representar muitos outros amigos, que como eu já estamos sentindo sua ausência.

     Renato Chad foi embora num sábado, quando repousava em casa, após um mal estar sofrido no dia anterior. Somente um infarto para segurá-lo, pois é difícil imaginar ele, o qual desde criança aprendeu ao lado do pai, a responsabilidade de gerenciar com familiares, seus negócios em Aparecida.
“Este corre corre é a dinâmica turística da cidade - Capital da Fé”- traduzido no artigo “Visão de Futuro”, escrito por ele, pois  entendia a necessidade de avanços e modernidade, sempre com o olhar inovador  para a criação de atrativos,  na recepção de turistas de outros continentes. Assuntos como estes e outros sempre estiveram em pauta nos nossos diálogos. 

     Ele tinha profundo respeito e devoção à Nossa Senhora Aparecida. Quando da inauguração do Centro de Eventos “Padre Vitor”, escreveu um artigo sobre este santo padre, titulado de “Um Santo Entre Nós”. Orgulhava-se e honrava o sobrenome “CHAD”, o qual mantinha adesivado no seu veículo. Quando do lançamento do livro em memória do Dr. Geraldo Chad, seu parente. Contou do respeito e gratidão que prezava. Que Deus dê força e serenidade à sua esposa, senhora Áurea, aos filhos Frederico, Patrícia e familiares, para suportarem esta perda. E se sustentem na frase “Saudade sim, tristeza não”. Viveu exatamente a frase “Não devemos ter medo da bondade e  ternura”, palavras do Papa Francisco, as quais Renato solicitou, que as publicássemos  neste Jornal, nas edições que antecederam sua santa visita a  Aparecida.

     Amigos, com lágrimas contidas pela emoção, o tom poético é inevitável, pois ele mantinha na memória belos versos árabes e alguns escritos guardados em sua gaveta.  Hoje, sob o céu de Aparecida há mais um guardião a selar. Guardião que tanto amou esta cidade, talvez “Maktub” seja melhor compreendida.
Aprendemos com o tempo e, com o convívio ao lado dele a  entendermos o  melhor valor de uma grande e autêntica  amizade. Hoje, sei que quando acontecer um verdadeiro aperto de mão, um beijo de amizade no rosto, um abraço afetuoso, renascerá os gestos do inesquecível  Amigo Renato Chad.
 Seja em que tempo e sorte  for...

Reinaldo Cabral

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