Guaratinguetá. Casa da esquina.

Guaratinguetá. Casa da esquina.
 
(Reinaldo Cabral)
 
Subia os degraus daquela “casa da esquina'' quando encontrei o guardião da História. –– Há quanto tempo! –– cumprimentou-me. –– E o Flamínio, como vai? –– Muito bem! –– respondi em pensamento. E pensei comigo: “Veja bem companheiro como são as coisas. Dias atrás me lembrei de quando o sol nascia por trás dos eucaliptos da Rua Primeiro de Maio e a neblina se fundia com a fumaça da lenha no preparo do café matinal que juntos tomávamos. Naquela época ele era corajoso.
Mas, depois da rápida prosa com o guardião, caminho por um corredor que me leva em direção à sala, de onde ouço os sons de dois violinos e um violoncelo vindo da varanda interna. Sons que se fundem ao compasso dos meus passos, que pisam sobre o assoalho de madeira. À luz tênue dos lustres, criando um cenário de época, porém real, vem-me novamente uma súbita sensação. Como a de chegar a um lugar distante e já tê-lo visto anteriormente, embora sem lembrança real desta visão.
A sonoridade me atrai para aquela varanda interna, onde outras pessoas proseavam em voz baixa, em respeito às vibrações das cordas acústicas. Muitas fotos. Pixinguinha piscou e sorriu para os músicos. Tinha-se a impressão de que aquela família, apesar da séria aparência, em certo momento também parecia sorrir na foto em preto e branco exposta no quintal daquela casa que, embora no mesmo lugar, encontrava-se distante no tempo.
Aproveitei a oportunidade e visitei todos os cômodos. Vi originais mobílias coloniais, que são realmente uma preciosidade histórica. Da janela se via a lua sobre a estação de trem. Vi a antiga máquina de datilografia sobre a mesa em tom marrom na qual, talvez, há tempos, foram decididos os rumos do país. Não consigo imaginar que isso possa um dia se transformar em loja de departamento no centro de cidade e deixá-la sem memória.
Do último cômodo fui para a saída. A noite se alongava. Já era hora de ir. Seguindo o corredor passei pelo tal cômodo à direita, o qual ainda não havia visitado. Ali vi um casal elegante, com trajes de festa, tendo à frente uma criança brincando. O mesmo casal já visto por mim anteriormente, em Aparecida. Pedi para tirar uma foto. O casal educadamente puxou conversa.
Dessa vez os dois me passaram uma informação e agendamos uma nova reunião para outra noite. Na mesa redonda da casa do Presidente... E desci os degraus! Naquela noite de sexta-feira, em Guaratinguetá.





Arte em muros na entrada de Aparecida.

A Academia Happy Day de Aparecida, com a consciência do melhor paisagismo em muros do seu prédio, convidou artistas da região para criarem...

Lançamento do Livro "Pelos Caminhos da Estrada Real"